Na matéria do Blog Transitar desta semana, vamos entender como, nos últimos anos, os índices de sinistros no trânsito têm se mostrado preocupantes no Brasil. Colisões, atropelamentos e acidentes fatais têm criado uma triste realidade em nossas ruas e estradas, afetando milhões de pessoas e gerando um impacto significativo nas cidades e na economia. O aumento desses sinistros exige uma reflexão urgente sobre os fatores que contribuem para esse cenário e as medidas que podem ser adotadas.
Desde a mudança do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em 2021, houve um abrandamento das leis de trânsito, o que pode ter contribuído para o aumento dos sinistros de trânsito. As alterações incluíram a ampliação do prazo para renovação da CNH, a redução das multas para algumas infrações, o aumento do limite de pontuação para suspensão da CNH e a flexibilização de regras para motoristas profissionais.
Essas mudanças, embora visem desburocratizar e facilitar a vida dos motoristas, também podem ter gerado uma percepção de menor rigor e punição, resultando em comportamentos mais imprudentes. Além disso, a fiscalização ficou mais flexível em algumas áreas, o que pode ter levado a um menor cumprimento das normas de trânsito.
Segundo o Portal de Dados INFOSIGA, plataforma de estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) de São Paulo, até outubro de 2024, foram registradas mais de mil mortes por atropelamento, representando um aumento de 23% em relação ao ano anterior. No primeiro semestre de 2024, o Estado registrou 2.999 mortes em acidentes automobilísticos, mil óbitos a mais do que no mesmo período de 2023. Na Grande São Paulo, os cinco primeiros meses de 2024 foram os mais letais dos últimos seis anos, com 850 mortes registradas.
Em outros Estados brasileiros, o cenário também é alarmante. O número de acidentes de trânsito que resultaram em morte aumentou 15% no Rio de Janeiro em um ano. E esse não é o único indicador de violência no trânsito que cresceu, segundo os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), na comparação entre o 1° semestre de 2023 com o mesmo período de 2024, o levantamento também indicou aumento no número de atropelamentos; homicídios culposos no trânsito; pessoas dirigindo embriagadas; e motoristas sem habilitação.
Em 2024, Minas Gerais registrou um aumento no número de acidentes de trânsito, com um índice de 94 mil acidentes entre janeiro e abril, o maior em nove anos. O Estado deve gastar mais de R$ 5 bilhões em 2024 em virtude das consequências destes sinistros.
A PRF registrou no Paraná um aumento no número de engavetamentos, os sinistros que envolvem três ou mais veículos em colisão traseira. Acompanhando esta alta, seguem os óbitos nessas ocorrências, que saltaram 300% em comparação a 2023. Passando de 89 para 102 sinistros registrados, os engavetamentos elevaram o número de óbitos de 6 para 18. O Brasil registrou 29.435 mil sinistros de trânsito, que resultaram em 85.549 mil pessoas envolvidas e 2.906 mil mortes nas rodovias federais até junho de 2024. O alerta é da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do RS (ABRAMET/RS).
A maior parte dos acidentes de trânsito pode ser atribuída ao comportamento imprudente dos motoristas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que mais de 90% dos acidentes são causados por imprudência, como uso de celular ao volante, excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas e falta de respeito à sinalização.
Com o crescimento das cidades e a popularização dos veículos, o número de carros, motos e caminhões circulando nas ruas aumentou consideravelmente. Isso resultou em um trânsito mais congestionado e, consequentemente, mais propenso a acidentes. A falta de planejamento urbano adequado agrava essa situação.
Em muitas regiões do Brasil, a infraestrutura viária ainda é precária, comprometendo a segurança dos usuários. Estradas malconservadas, sinalização insuficiente e falta de iluminação são alguns dos problemas comuns.
Apesar da existência de leis e normas de trânsito, a fiscalização é insuficiente em muitas localidades. O não cumprimento das leis e a falta de uma educação efetiva no trânsito contribuem para a alta taxa de acidentes.
As consequências dos sinistros no trânsito vão muito além dos danos materiais. As perdas humanas são as mais trágicas e irreparáveis. Muitas vítimas de acidentes enfrentam consequências graves, como lesões permanentes e perda de qualidade de vida.
O custo dos acidentes de trânsito é elevado, envolvendo gastos com atendimento médico, reparos de veículos e perda de produtividade. O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta uma demanda crescente devido ao alto número de vítimas de acidentes.
Um estudo da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN) evidenciou que mais da metade dos proprietários de motocicletas não possuem CNH de categoria A para rodar com seus veículos. Ao todo, o Brasil possui 34,2 milhões de donos de motocicletas, motonetas e ciclomotores. Destes, 17,5 milhões não são habilitados a pilotá-las. Isso quer dizer que 53,8% simplesmente não poderiam estar rodando com suas motos. Inúmeras notícias de cidadãos que provocaram acidentes e não possuem a Carteira Nacional de Habilitação são publicadas diariamente.
Este dado alarmante reflete a importância da educação de trânsito na formação do Condutor. A educação de trânsito promove a conscientização sobre as leis e práticas seguras de condução, e garante que os motoristas estejam devidamente treinados e capacitados para dirigirem com responsabilidade. Sem esses elementos, aumentam significativamente os riscos de acidentes e sinistros, comprometendo a segurança nas vias e colocando em perigo a vida de todos os usuários do trânsito.
Embora o aumento dos índices de sinistros no trânsito seja um desafio significativo, algumas medidas podem ajudar a reverter esse cenário, tais como o fortalecimento e a defesa da educação de trânsito na formação do condutor de acordo com a legislação vigente e programas contínuos de conscientização para motoristas, pedestres e ciclistas devem ser implementados de forma contínua, abordando temas como o uso do cinto de segurança, a importância da atenção enquanto dirige e os riscos do uso do celular ao volante.
O aumento dos índices de sinistros no trânsito é um reflexo de vários fatores interligados, desde a imprudência dos motoristas até a infraestrutura deficiente. Porém, é possível reverter esse cenário com a adoção de medidas adequadas. Uma mudança no comportamento das pessoas, aliada a uma maior fiscalização e à educação contínua, é essencial para a criação de um trânsito mais seguro para todos. O desafio é grande, mas com o esforço coletivo podemos reduzir o número de acidentes e salvar vidas nas ruas e estradas do Brasil.
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