Trânsito

A Lei Seca no Brasil: 15 anos combatendo a embriaguez ao volante

Ações que previnem o consumo de álcool no trânsito são essenciais, tanto o proibindo, quanto fiscalizando e conscientizando os que insistem em faze-la.

COMUNICAÇÃO - 23 de junho de 2023
GRUPO CRIAR - Criação

A legislação de trânsito é essencial para garantir a segurança nas ruas e estradas do Brasil. Dentre as leis que visam combater comportamentos irresponsáveis ao volante, a chamada "Lei Seca", destaca-se como um marco na luta contra a embriaguez no país, que completou 15 anos na última segunda-feira (19/06/2023).

Origem da Lei Seca

 A problemática da embriaguez ao volante sempre foi uma preocupação no trânsito do Brasil e do mundo, mas foi somente em 2008 que a Lei Seca (Lei nº 11.705) foi sancionada. Inspirada em experiências internacionais bem-sucedidas, a legislação brasileira estabeleceu limites mais rígidos para a tolerância de álcool no sangue dos Condutores.

Mudanças e Impactos

Dirigir sob influência do álcool já era uma atitude que resultava em multa, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), de 1997, mas foi só em 2008, com a Lei Seca, que a fiscalização foi fortalecida e uma maior tolerância definida.

Desde 2012, qualquer concentração de álcool no sangue passou a ser considerada uma infração gravíssima. Em 2016, a multa por embriaguez passou a cobrar R$ 2.934,70, e o testemunho pelo agente de trânsito de que o motorista estivesse com sinais de embriaguez passa a ser evidência para a punição. No mesmo ano, a recusa ao teste do bafômetro também passou a ser considerada infração gravíssima e autossuspensiva, ou seja, que suspende imediatamente o direito do motorista de dirigir.

Já em 2018, a pena para motoristas que tenham bebido e causado acidente pode chegar a oito anos de prisão. Em casos de comprovação do uso de bebidas alcoólicas antes de dirigir, o motorista infrator tem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por doze meses, podendo ter a carteira cassada caso seja flagrado dirigindo em via pública nesse período.

Antes da Lei Seca, o limite de álcool no sangue era de 6 decigramas por litro (0,6g/L). Com a nova lei, o limite passou a ser de 2 decigramas por litro (0,2g/L), ou seja, uma redução significativa.

Fiscalização e Operações

A implementação da Lei Seca demandou um maior esforço das autoridades de trânsito para fiscalizar e coibir a embriaguez ao volante. Ao longo dos anos, foram realizadas diversas operações conjuntas entre órgãos de trânsito, como a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar (PM), DETRAN e outras instituições, visando aumentar a conscientização e a efetividade da lei.

Desafios e Resultados

Desde sua implantação, a Lei Seca enfrentou alguns desafios, como a conscientização da população sobre os riscos da embriaguez ao volante e a necessidade de aprimorar os métodos de fiscalização. Apesar disso, a lei trouxe resultados positivos. Houve uma redução significativa no número de acidentes de trânsito relacionados à ingestão de álcool, além do aumento na conscientização sobre a importância de se evitar a combinação de álcool e direção.

Dados atuais

De acordo com a pesquisa “Panorama dos acidentes de trânsito por uso de álcool no Brasil”, realizada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), os óbitos por acidente de trânsito relacionados ao uso de álcool por 100 mil habitantes tiveram uma redução de 32%, comparando os índices de 2010 e de 2021. As internações, por sua vez, aumentaram 34%. Em relação à categoria envolvida nos acidentes fatais, observou-se uma tendência de queda entre ocupantes de veículos e entre pedestres. No que diz respeito às internações, houve um aumento entre ciclistas e motociclistas. Porém, entre ocupantes de veículos e pedestres, verificou-se tendência de diminuição das internações.

Em 2021, os acidentes de trânsito foram a principal causa de internações atribuíveis ao álcool (22,6%) e a segunda causa de mortalidade relacionada ao uso da substância (15,8%). Nesse mesmo ano, o Brasil registrou 8,7 internações e 1,2 mortes por hora em razão de acidentes de trânsito provocados pelo uso de álcool, o que significa, em um ano, 75.983 hospitalizações e 10.887 óbitos por essa causa. Assim, o período de 2010-2021 registrou maior número de internações e o menor número de mortes. 

Para ter acesso a todos os dados da pesquisa, acesse o site: https://cisa.org.br/pesquisa/dados-oficiais/artigo/item/425-15-anos-da-lei-seca-o-que-mudou

Segundo dados da Diretoria de Operações da PRF, o aumento das abordagens e dos testes de alcoolemia têm impacto direto em um dos principais índices de monitoramento estabelecidos pela instituição em relação à segurança viária: o número de acidentes provocados pelo consumo de álcool.

Ano

Acidentes provocados pelo consumo de álcool

2017

6448

2018

5205

2019

5420

2020

5078

2021

4533

2022

3651

Para acessar todos os dados fornecidos pela PFR, acesse: https://www.gov.br/prf/pt-br/noticias/nacionais/lei-seca-15-anos-de-protecao-a-vida-e-tolerancia-zero-a-mistura-alcool-e-direcao

Avanços Futuros

Embora a Lei Seca já tenha obtido resultados relevantes, a segurança no trânsito continua sendo um desafio no Brasil. A conscientização da população e a educação para um comportamento responsável ao volante são aspectos fundamentais para a prevenção de acidentes relacionados à embriaguez. Além disso, aprimorar a fiscalização e investir em tecnologias que possam identificar com mais precisão motoristas sob efeito de álcool, como o teste do bafômetro (ou etilômetro) que passou a ser obrigatório em 2016 e é realizado em blitz policiais, são passos importantes para aperfeiçoar a aplicação da Lei Seca.

Segundo o Ministério dos Transportes, há duas formas importantes que a SENATRAN pode ajudar os DETRANs nesse esforço. A primeira são as campanhas educativas, que ainda são muito necessárias porque é preciso sempre estar relembrando ao cidadão que o trânsito é um ambiente de risco e que, quando se bebe e dirige, esse risco é potencializado. Um outro ponto fundamental é a elaboração de estudos com base em dados dos últimos 15 anos, com o objetivo de mapear o perfil do infrator relacionado à Lei Seca. Os resultados desses estudos devem ser apresentados na Semana Nacional de Trânsito, em setembro.

Enfim, é possível perceber que a Lei Seca representa um marco na luta contra a embriaguez ao volante no Brasil. Ao longo de sua história, a legislação passou por adaptações e enfrentou desafios, mas trouxe resultados positivos na redução de acidentes e na conscientização da população. Ainda há muito a ser feito para garantir a segurança nas ruas e estradas do país, mas a Lei Seca é um importante instrumento no combate à combinação perigosa entre álcool e direção, buscando preservar vidas e promover uma mobilidade urbana mais segura.