Sinistros de trânsito são eventos traumáticos que ultrapassam o momento da colisão. As consequências físicas e emocionais podem se prolongar por meses, ou até por toda a vida. Em um país onde os sinistros viários matam mais de 30 mil pessoas por ano e deixam milhares com sequelas permanentes, é urgente discutir os impactos que esses episódios causam na saúde pública, na vida dos envolvidos e na sociedade como um todo.
As lesões físicas provocadas por sinistros incluem desde escoriações leves até fraturas múltiplas, amputações e traumas cranianos. Segundo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), vítimas de sinistros graves podem enfrentar longos períodos de internação, múltiplas cirurgias e reabilitação intensiva.
Em Presidente Prudente, cidade do interior de São Paulo, por exemplo, o custo dos atendimentos a vítimas de trânsito chegou a R$ 10,1 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025. Esses números escancaram o peso que os sinistros têm sobre os recursos públicos e a infraestrutura hospitalar.
Nem todas as feridas aparecem nas radiografias. O impacto emocional de um sinistro pode ser devastador e silencioso. Transtornos como ansiedade, depressão, insônia, fobias e estresse pós-traumático são comuns entre vítimas, familiares e até testemunhas. Um estudo publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva aponta que o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é uma das principais sequelas invisíveis dos sinistros viários.
Além disso, muitas vítimas enfrentam sentimento de culpa por terem sobrevivido, medo de voltar a dirigir, crises de pânico ao se aproximarem de locais semelhantes ao do sinistro, e até isolamento social. Esses bloqueios emocionais podem comprometer a rotina, o trabalho, os relacionamentos e a autoestima. Em casos mais graves, há risco de desenvolvimento de transtornos psiquiátricos crônicos e ideação suicida.
A ausência de suporte psicológico adequado, seja por falta de acesso, estigma ou desconhecimento, agrava ainda mais o quadro. O acolhimento emocional, o acompanhamento terapêutico e a escuta ativa são fundamentais para a reconstrução da vida após um sinistro.
Em Maceió, capital de Alagoas, as mortes no trânsito cresceram 330% em 2024, revelando uma crise na mobilidade urbana e na fiscalização viária. A violência no trânsito é considerada uma “ferida aberta” no sistema de saúde brasileiro, como aponta reportagem da revista Saúde Abril. A negligência com regras básicas de segurança, como uso do cinto, respeito à sinalização e não dirigir sob efeito de álcool, continua sendo um dos principais fatores de risco.
Campanhas como o Maio Amarelo têm buscado sensibilizar a população sobre os perigos do trânsito e a importância de atitudes responsáveis. Mas a mudança começa com cada condutor. Respeitar os limites de velocidade, evitar distrações ao volante e nunca dirigir após consumir álcool são atitudes que salvam vidas.
A educação para o trânsito deve ser contínua e incluir não apenas regras, mas responsabilidade. Afinal, cada escolha no volante pode impactar profundamente a vida de alguém, física e emocionalmente.
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