No trânsito brasileiro, onde a convivência entre veículos de diferentes portes é intensa e muitas vezes desordenada, os pontos cegos representam uma ameaça silenciosa e subestimada. Essas áreas fora do campo de visão dos condutores, especialmente em ônibus, caminhões e veículos utilitários, são palco de sinistros graves que envolvem não apenas motociclistas, mas também pedestres, ciclistas e até outros motoristas.
Em agosto de 2025, um motociclista morreu em Fortaleza após colidir com a traseira de um ônibus e ser atropelado por uma carreta. O acidente ocorreu em um ponto cego do coletivo, onde o motorista não conseguia enxergar o condutor da moto trafegando pelo corredor. Casos como esse evidenciam o quanto a falta de visibilidade pode transformar uma manobra cotidiana em tragédia.
Pedestres também estão vulneráveis. Em áreas de embarque e desembarque, cruzamentos e faixas de pedestres, os pontos cegos podem impedir que motoristas percebam a presença de pessoas atravessando a via. A RP MOBI, empresa responsável pelo transporte urbano em Ribeirão Preto, uma das maiores cidades do interior do Estado de São Paulo, alertou recentemente sobre os riscos de atropelamentos causados por pontos cegos em ônibus urbanos, especialmente em horários de pico.
Ciclistas enfrentam desafios semelhantes. Em Curitiba, uma ação educativa durante o Maio Amarelo convidou ciclistas a ocuparem o banco do motorista de um ônibus biarticulado. A experiência revelou que até oito zonas de invisibilidade cercam o veículo, tornando praticamente impossível enxergar quem trafega ao lado ou atrás sem o uso de câmeras ou sensores.
Outros motoristas também não estão imunes. Veículos menores, como carros de passeio, podem ser atingidos durante conversões ou mudanças de faixa por caminhões e ônibus cujos condutores não percebem sua presença. O Jornal Tribuna de Jundiaí destacou que a CCR AutoBAn, concessionária que administra o sistema Anhanguera-Bandeirantes, principal ligação da capital com o interior do Estado de São Paulo, tem promovido ações educativas nas rodovias para conscientizar motoristas sobre os riscos dos pontos cegos e a importância da verificação de ombro antes de qualquer manobra.
A tecnologia tem avançado para mitigar esses riscos. Sensores de proximidade, câmeras de visão periférica e sistemas de alerta estão sendo incorporados em veículos mais modernos. No entanto, a conscientização continua sendo o principal escudo contra sinistros. Em Santos, cidade do litoral do Estado de São Paulo, a Câmara Municipal discute um projeto de lei que propõe selos de alerta nos pontos cegos de veículos do transporte público, com o objetivo de informar os usuários da via sobre os riscos e estimular comportamentos mais seguros.
Segundo dados do Ministério da Saúde, os motociclistas representam cerca de 40% das vítimas fatais no trânsito brasileiro. Mas os sinistros envolvendo pedestres e ciclistas também têm crescido, especialmente em áreas urbanas mal sinalizadas ou com tráfego intenso. A combinação de velocidade, vulnerabilidade e baixa visibilidade torna esses grupos especialmente expostos.
Para reduzir os sinistros, especialistas recomendam que todos os usuários da via, motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres, adotem uma postura defensiva. Isso inclui manter distância segura, evitar trafegar nas laterais de veículos grandes, sinalizar com antecedência e utilizar equipamentos de proteção. A responsabilidade compartilhada nas ruas, aliada à educação e à infraestrutura adequada, é essencial para salvar vidas.
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